Entender a tecnologia blockchain é um grande desafio, mas garanto que quando me deparei com a economia de uma blockchain se tornou bem mais desafiador. Existem poucos materiais sobre o tema e quando vamos para textos em português entramos em um terreno ainda mais escasso.
O objetivo desse texto é passar um modelo mental básico para economistas e entusiastas da tecnologia, buscando explicar a economia de um ecossistema blockchain. Vou tentar ao máximo referenciar os conteúdos e pessoas que me ajudaram a criar essa forma com que enxergo blockchains hoje, mas não se sintam lesados caso esqueça de citar alguém. Estou em blockchain desde 2017 e lembrar de todos os autores que já tive contato também é uma missão bem difícil (risos).
O que uma Blockchain vende?
Blockchains vendem blocos. Simples! Mas precisamos entender bem o que isso significa.
Uma blockchain é uma rede formada por vários computadores que juntos constroem um consenso sobre uma cadeia de blocos que guardam informações. O bloco X está ligado ao bloco X-1 e o bloco X+1 precisa estar ligado ao bloco X.
Dessa forma, caso algum dado seja alterado no bloco X-1, o bloco X também precisa ser alterado e, consequentemente, o bloco X+1 precisa ser modificado para que a cadeia de blocos permaneça conectada.
O que tem de tão importante nisso? Desde 2009 a rede do Bitcoin tem construído a cada 10 minutos um novo bloco, esse sistema funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana e nunca ficou fora do ar por nem 1 milésimo de segundo nos últimos 15 anos, totalizando no momento em que escrevo esse texto um total de 832.540 blocos.
Mas então, o que fazem esses blocos? Qual o custo de um bloco? Quem cria um novo bloco?
O que cada bloco faz vai depender de qual blockchain estamos observando. Vamos simplificar falando da rede Bitcoin e da Ethereum. Na rede do Bitcoin o que é possível de ser feito dentro desses blocos é escrever transações enviando BTC da sua carteira para outras.
Exemplo enviando BTC:
Bruno envia 1 Bitcoin para Satoshi no Bloco X-1;
Satoshi envia 1 Bitcoin para Gary no Bloco X;
Gary envia 1 Bitcoin para Vitalik no Bloco X+1.
Assim a rede registra e faz a soma na conta de Satoshi ao mesmo tempo que subtrai a quantidade da minha conta.
Caso eu me arrependa de ter enviado tanto BTC para Satoshi no bloco X-1 e queira alterar o registro para ter meu Bitcoin de volta, toda a rede precisaria ser alterada. Caso eu tente mudar apenas meu registro eu invalido a cadeia de blocos, não conseguindo conectar o bloco X-1 ao restante da blockcahin.
Assim a rede do Bitcoin mantem essa cadeia enorme de blocos sempre crescendo, com novas transações e atualizando sempre o estado da rede. Alguns pontos importantes são que, para saber o saldo de uma carteira é necessário percorrer todos os blocos, vendo as interações de envio e recebimento de determinada carteira. Quem executa o papel de guardar os blocos e criar os novos são os mineradores de Bitcoin, vamos aprofundar mais a fundo no papel deles em breve.
Para alterar a blockchain você precisa executar uma transação que neutralize a operação. No exemplo em que me arrependo de enviar tanto BTC para Satothi seria necessário pedir que ele me enviasse novamente 0,9 BTC de troco, já que não posso apenas alterar o que aconteceu no passado (bloco X-1). Caso Satoshi não tenha um saldo para me devolver, ele teria que pedir para Gary, assim sucessivamente. Dessa forma fica claro a imutabilidade de uma blockchain, uma vez registrado não pode ser apagado ou atualizado sem que transações sejam gravadas em blocos posteriores para neutralizar a operação.
Qual o valor de um Bloco?
Entendendo isso podemos partir para o título dessa seção: o que uma blockchain vende? Blocos!
As pessoas pagam para estar nesse bloco e usar a rede para transferir valores. Existe um forte interesse em usar essa rede que funciona 24h por dia e nunca ficou offline. Mas para a rede funcionar, precisamos dos mineradores. Eles são os agentes responsáveis por criar e vender espaço dentro dos blocos, alocando dentro dos blocos mensagens assinadas de transferências. Quando uma pessoa envia uma transação na verdade ela vai inicialmente pra uma fila dentro do que chamamos de “mempool”, quanto mais cara a taxa que está disposto a pagar, mais na frente você fica na fila para ser selecionado por um minerador. Vamos entender mais o papel e o que incentiva esses agentes.
Os mineradores são atraídos pela possibilidade de ganhar Bitcoin, dedicando-se a operar seus computadores incessantemente para minerar um bloco. Na rede, um novo bloco surge a cada 10 minutos, limitado a 1MB, o que equivale a aproximadamente 3.600 transações. A mineração bem-sucedida não apenas conecta um novo bloco ao anterior mas também recompensa o minerador com Bitcoin e as taxas de transação incorporadas.
Este processo é desafiador: resolver um complexo problema matemático é necessário para a mineração. Ao concluir, o minerador é recompensado com 6,25 BTC, uma soma criada pela rede para incentivar a mineração, além das taxas de transação. Cada transação exige uma taxa, incentivando os mineradores a incluí-las nos blocos. Durante um período de atividade moderada, a taxa média é de aproximadamente 0,000081 BTC (cerca de R$25).
O prêmio pela mineração varia conforme as taxas de transação, mas o incentivo principal vem dos 6,25 BTC (aproximadamente R$1.919.957,63 na cotação atual).
Lógico que existe um custo associado a essa operação. Não significa que só por você ter ligado seu computador para minerar Bitcoin que você vai receber R$1.919.957,63 a cada 10 minutos. Isso seria muito fácil. Minerar BTC significa que você está na verdade em uma competição mundial, com vários computadores ultra potentes que ficam tentando resolver o problema matemático de se criar um bloco unindo no bloco anterior.
Claro que em 2009 não era assim, primeiro pelo fato do Bitcoin nessa época não tinha nenhum valor econômico, segundo que existiam apenas alguns computadores comuns competindo. A rede do Bitcoin é dinâmica e automaticamente aumenta a dificuldade quando existem muitos computadores tentando resolver um problema, já que assim eles acabam resolvendo mais rápido. O mesmo acontece quando os mineradores perdem o interesse e preferem desligar seus computadores, automaticamente a rede volta a diminuir a dificuldade. Assim conseguimos garantir que cada bloco demore mais ou menos 10 minutos para ser minerado.
Os mineradores medem então o custo em se manter seu computador ligado contra a receita que podem ganhar minerando e vendendo BTC no mercado. Ao longo do tempo conseguimos ver que com a valorização do Bitcoin a rede passa a ter também uma dificuldade altíssima, o que significa que a rede possui um grande poder computacional. Não é um poder computacional no sentido de conseguir executar várias tarefas, ou lógicas complexas, significa que para minerar é necessário ter uma máquina bem potente para ter chances de conseguir resolver o problema matemático, mas também que para atacar a rede do Bitcoin também é necessário muitas máquinas.
Os mineradores estão livres para conectar mais máquinas na rede caso o estímulo justifique. Podemos entender por exemplo que quanto maior a cotação do BTC em dólar, mais computadores vamos ter ligados na rede. Quanto mais computadores minerando Bitcoin, mais poder computacional e mais segurança temos na rede.
É aqui que começamos também a diferenciar o BTC que é criado pela rede para incentivar as pessoas a ligarem seus computadores. Abaixo segue um gráfico com a receita feita mensalmente pelos mineradores de BTC ao longo do tempo, separando da receita vinda pelo prêmio do bloco e a receita pelo acumulo das taxas nas transações. A parte mais importante para os mineradores é o subsídio de novos Bitcoins emitidos quando um bloco é criado.
É importante destacar também o funcionamento do mecanismo de escassez do Bitcoin, conhecido como halving, que reduz pela metade a recompensa por bloco a cada 210.000 blocos, assegurando a valorização da moeda ao longo do tempo. No início o prémio por se minerar um bloco era de 50 BTC, depois do primeiro halving passou para 25, em seguida para 12,5 e agora estamos no final do período de 6,25 BTC sendo emitidos a cada 10 minutos.
Pela velocidade de um bloco a cada 10 minutos conseguimos estimar que o próximo corte será em abril de 2024 onde vamos passar a ter um prémio de 3,125 BTC por bloco.
O problema do último Bitcoin
Estima-se que em 2140 a última fração de Bitcoin será minerada. Nesse momento podemos ter um problema. Parte dos Bitcoiners acreditam que chegando no último Bitcoin a ser minerado, o valor do BTC estará alto o suficiente e que a rede terá movimentação o bastante para que apenas as taxas de transações estimulem os mineradores a continuar com suas máquinas ligadas.
Outra parcela da comunidade Bitcoin acredita que podemos ter um problema, já que grande parte do estímulo a se manter a rede do Bitcoin vem do subsídio da rede, quando acabar o estoque de novos BTC a rede vai ter um problema na sua economia. Aqui criamos o conceito de “orçamento de segurança” que é esse valor pago aos mineradores seja da emissão de novos BTC ou das taxas de transações, já que é exatamente o que remunera e justifica o poder computacional que mantém a rede do Bitcoin segura.
Obs: Na blockchain, a assinatura digital com a chave privada de Bruno confirma sua intenção de enviar 0,5 Bitcoins para Satoshi, garantindo segurança e autenticidade à transação. Essa tecnologia criptográfica assegura que apenas o remetente legítimo possa iniciar transferências, prevenindo fraudes. Detalhes sobre a criptografia podem ser explorados futuramente.Consolidando os conhecimentos
Consolidando o Conhecimento sobre Bitcoin
Todo Bitcoin que existe no mundo “nasce” sendo minerado, que por sua vez é um resultado da criação de um novo bloco na blockchain. A rede do Bitcoin tem suas leis de política monetária escritas de forma que a oferta máxima de Bitcoin a ser criada é de 21.000.000 e que a única política fiscal é: você precisa pagar a taxa da rede caso queira participar dessa economia e fazer uso da rede para transacionar seus BTC.
A criptografia nativa dessa infraestrutura garante que para movimentar os fundos de uma carteira é necessário ter a chave privada. Tendo a chave privada conseguimos garantir a autenticidade de uma transação e assim executar a ordem de transferência. É extremamente difícil quebrar a criptografia que protege um endereço de Bitcoin, o que faz com que a tecnologia seja confiável para guardar grandes valores.
A principal atividade que conseguimos fazer em um bloco da rede é de transacionar BTC, fazendo a soma e subtração entre quem está enviando e recebendo. Não conseguimos escrever lógicas complexas na rede do Bitcoin. Recentemente com algumas atualizações foi possível a criação de NFTs e tokens dentro do BTC. Podemos explorar mais pra frente o quanto isso afetou (positivamente) a rede do Bitcoin.
O que a Ethereum vende?
Vimos que de forma simplificada, podemos enxergar o Bitcoin como o ativo que circula dentro da Rede do Bitcoin, essa rede por sua vez é como uma calculadora em que a principal função é somar e subtrair BTC entre carteiras através das transações. Acontece que em 2013 essa rede chamou a atenção de uma pessoa especial, Vitalik Buterin, o criador da Ethereum.
Vitalik Buterin, um jovem programador russo-canadense, começou a se interessar por Bitcoin em 2011, quando tinha apenas 17 anos. Ele se envolveu ativamente nos fóruns online relacionados ao Bitcoin, onde discutia ideias e conceitos com outros entusiastas da criptomoeda. Em 2012, Vitalik co-fundou a Bitcoin Magazine, uma das primeiras publicações dedicadas exclusivamente a cobrir notícias e análises sobre Bitcoin e blockchain.
Através de suas interações nos fóruns e seu trabalho na Bitcoin Magazine, Vitalik começou a perceber algumas limitações na blockchain do Bitcoin. Ele acreditava que a tecnologia tinha potencial para muito mais do que apenas transações financeiras. Vitalik imaginou uma blockchain que pudesse suportar uma ampla gama de aplicativos descentralizados, além de contratos inteligentes autoexecutáveis.
Em 2013, Vitalik publicou um white paper propondo a criação da Ethereum, uma plataforma blockchain de código aberto que permitiria aos desenvolvedores criar e implantar aplicativos descentralizados (dApps) e contratos inteligentes. A visão de Vitalik era criar uma "computadora mundial" descentralizada, onde qualquer pessoa pudesse criar e executar aplicativos sem a necessidade de intermediários ou autoridades centrais.
A Ethereum vende espaço em um bloco diferente, com outras capacidades. Além de poder enviar ETH (moeda nativa da rede) para outras carteiras da mesma forma que podemos usar a rede do Bitcoin para enviar BTC entre carteiras. Porém, na rede da Ethereum também é possível criar contratos inteligentes (os chamados smart contracts).
Podemos usar esses contratos inteligentes para tarefas simples como gravar uma informação, ou criar lógicas mais completas como um contrato de uma moeda, onde definimos sua oferta, criamos a lógica de transferência, uma estrutura por exemplo de contrato de pagamento recorrente, ou de liberação de determinado saldo caso as regras de um acordo sejam cumpridas.
Exemplo de Criação de um Contrato Inteligente na Ethereum:
Bruno cria um contrato inteligente na Ethereum no Bloco Y-1 para ajudar Satoshi e Vitalik em um acordo que diz: “Quando Satoshi enviar 10 Ether para este contrato, o contrato automaticamente enviará 1 Ether para Vitalik todos os meses durante 10 meses.”
Bloco Y-1: Bruno implementou um contrato inteligente na blockchain Ethereum. O contrato está inativo, aguardando a condição de ativação (receber 10 ETH de Satoshi).
Bloco Y: Satoshi assina uma transação enviando 10 Ether para o contrato inteligente. Ao receber os 10 Ether, o contrato ativa a condição programada.
Bloco Y+1(mês): No final do primeiro mês após a ativação, o contrato automaticamente envia 1 ETH do saldo do contrato para Vitalik. A transação é verificada e adicionada ao Bloco Y+1.
Ciclos subsequentes: A cada novo mês, um novo bloco registra a transação automática de 1 ETH do contrato para Vitalik, até que o total de 10 ETH seja distribuído.
Se Bruno, Satoshi ou Vitalik quiserem alterar os termos do contrato após ele ter sido ativado (por exemplo, se Bruno decidir que não quer mais que Vitalik receba 1 Ether por mês), eles não podem simplesmente modificar o contrato existente. A natureza imutável da blockchain significa que, uma vez que um contrato inteligente é implantado e ativado, seu código e operações não podem ser alterados sem criar um novo contrato (que precisaria ser aceito por todas as partes envolvidas).
Este exemplo ilustra a capacidade dos contratos inteligentes na Ethereum de automatizar acordos e transações de forma transparente e sem a necessidade de intermediários, além de enfatizar a imutabilidade e a segurança proporcionadas pela blockchain. Também vimos o poder de se criar acordos que são executados automaticamente por uma rede blockchain. No exemplo não existe o risco de contraparte, depois que Satothi enviou 10 ETH para o contrato a rede irá cumprir a lógica de enviar 1 ETH a cada mês durante 10 meses.
O que achou do exemplo? Bem parecido com a rede do Bitcoin, mas eu diria que a Ethereum conta com novos “super poderes”.
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Qual a usabilidade de um contrato inteligente?
Além de serem executados automaticamente, os contratos inteligentes podem se conectar com outros, feito peças de Lego. Isso significa que podem ser criadas estruturas complexas e multifuncionais de contratos que interagem entre si para executar operações sofisticadas formando aplicativos descentralizados (dApps).
Vamos expandir o exemplo anterior, introduzindo a ideia de que o acordo entre Satoshi e Vitalik poderia ser na verdade um contrato que recebe qualquer 10 moedas e que depois de receber essas moedas envia 1 a cada mês para o endereço desejado. Então agora temos uma peça de lego, esse contrato além de enviar ETH, o contrato inteligente pode também usar em sua lógica uma outra moeda ou até mesmo por um bem tangível, como um café. Isso é possível graças a outro contrato inteligente, conhecido como contrato de token ERC-20 (contrato inteligente padrão para criação de moedas).
Mudando o exemplo, poderia ser criado previamente uma moeda chamada CaféCoin, que o Satoshi aceita em sua própria cafeteria como forma de pagamento para um café simples.
Estamos assumindo que existem dois contratos, um que é o contrato inteligente da CaféCoin e outro que é o contrato inteligente que efetua pagamentos recorrentes quando recebe o saldo de 10 moedas quaisquer. Essa característica é conhecida como a programabilidade ou composibilidade dos contratos inteligentes, que se refere à habilidade de construir novos contratos inteligentes sobre a lógica de contratos já existentes. Pense nisso como usar blocos de Lego: cada contrato inteligente é um bloco que pode ser encaixado com outros, criando estruturas mais complexas e funcionais.
Um contrato inteligente muito famoso no ecossistema cripto é o da Uniswap, ele permite você realizar a troca entre moedas diferentes como uma casa de câmbio. A Uniswap é uma DEX, que significa Corretora Descentralizada — Decentralized Exchange. Essa solução permite a negociação entre diferentes moedas (que usam padrão de tokens ERC-20) sem ter risco de contraparte. Depois vamos entender como é formado o mercado de troca dentro de uma blockchain, mas por agora basta entender que a Uniswap criou um contrato de troca, depois outras pessoas foram usando o contrato para permitir que diversas moedas se conectassem.
Como a rede da Ethereum consegue fazer isso? Por qual motivo o Bitcoin não realiza essas operações?
Semelhanças entre Bitcoin e Ethereum
Ambas são construídas através da união de diversos computadores que juntos formam a rede blockchain, as duas também possuem suas moedas nativas (Ether ou ETH na Ethereum e Bitcoin ou BTC na rede Bitcoin). Compõem uma inovação que garante a segurança e a transparência das transações por meio desse registro distribuído. Essa tecnologia permite que as informações sejam armazenadas em blocos interligados e criptografados, tornando-as imutáveis e à prova de adulterações.
Um aspecto crucial que Bitcoin e Ethereum também compartilham é a utilização de carteiras digitais. Estas carteiras desempenham um papel vital, facilitando o armazenamento seguro de criptomoedas e a realização de transações. São elas que utilizam criptografia de chave privada, assegurando que apenas o proprietário da carteira tenha acesso aos seus ativos e possa autorizar transações.
Diferenças entre a rede Bitcoin e Ethereum
O Bitcoin faz a segurança da rede através do poder computacional, quanto mais computadores na rede mais seguro. Esse processo é o Prova de Trabalho (PoW) que foi também utilizado pela Ethereum até 2022, quando foi implementado a Prova de Participação (PoS) que já não faz a rede depender de poder computacional para manter sua segurança, ela deixa de ter os agentes Mineradores de Ethereum e passa a ter os Validadores de Ethereum (vamos detalhar essa diferença ao longo do texto).
Outra diferença entre as redes é que desde o começo as suas políticas monetárias do Bitcoin estavam bem escritas e até hoje seguem iguais: vão existir 21 milhões de Bitcoins, sendo minerados a cada 10 minutos, tendo a quantidade emitida reduzida pela metade a cada 210.000 blocos. Assim fica definido sua oferta máxima e também a inflação daquela economia, conseguimos entender desde 2009 como sua base monetária vai se comportar. Já na rede da Ethereum a dinâmica monetária começou em 2015 da seguinte forma: vamos fazer um ICO de 85 milhões de Ethers, depois cada bloco será recompensado com 5 ETH.
Continuamos com a mesma regas de 5 ETH por bloco até 2017 que foi quando o modelo monetário da Ethereum sofreu sua primeira alteração, com a redução da recompensa por bloco de 5 para 3 ether, conforme estipulado pela Proposta de Melhoria Ethereum (EIP-649). Essa foi uma decisão importante que visou ajustar a emissão de novos ethers e influenciar a economia da rede. Em 2019, houve uma segunda redução na emissão, baixando as recompensas por bloco para 2 ether (EIP-1234), uma medida adicional para refinar a política monetária da Ethereum e sua inflação.
Além disso, um mecanismo de “queima de taxas” foi introduzido em agosto de 2021 (EIP-1559), marcando uma mudança significativa na maneira como as taxas de transação são tratadas na rede. Esse mecanismo ajusta dinamicamente as taxas para melhor gerenciar a congestão da rede, ao mesmo tempo em que queima uma parte das taxas, reduzindo efetivamente a emissão líquida de novos Ethers. Essa inovação não só ajudou a alinhar os incentivos entre usuários e mineradores, mas também introduziu um mecanismo deflacionário na economia da Ethereum.
Dentro desse contexto de evolução e adaptação da política monetária da Ethereum, um marco crucial foi a transição para a Prova de Participação (Proof of Stake - PoS), conhecida como “The Merge” implementada em 2022 (EIP-3675). Implementada em 2022 através da EIP-3675, essa mudança trouxe uma série de benefícios e alterações na economia da rede.
Antes da transição, a Ethereum utilizava o mecanismo de Prova de Trabalho (PoW), semelhante ao Bitcoin, onde os mineradores competiam para resolver problemas matemáticos complexos e criar novos blocos. Esse processo exigia um alto consumo de energia e poder computacional, levantando preocupações sobre a sustentabilidade e escalabilidade da rede.
Com a Prova de Participação, a Ethereum substituiu os mineradores pelos validadores. Agora, em vez de investir em hardware especializado, os participantes da rede podem se tornar validadores ao "apostar" (staking) uma quantidade mínima de 32 ETH. Esses validadores são responsáveis por validar transações, criar novos blocos e manter a segurança da rede.
A transição para a PoS trouxe várias vantagens econômicas para a Ethereum:
Redução do consumo de energia: A PoS elimina a necessidade de mineração intensiva em energia, tornando a Ethereum mais sustentável e ambientalmente amigável.
Maior participação e descentralização: Com um menor custo de entrada, mais pessoas podem se tornar validadores, aumentando a descentralização e a segurança da rede.
Emissão controlada de Ether: A PoS introduziu uma nova política de emissão de Ether, com a quantidade emitida sendo ajustada dinamicamente com base no número de validadores participantes. Isso ajuda a controlar a inflação e mantém a oferta de Ether previsível e sustentável.
Recompensas para os validadores: Os validadores são recompensados com Ether recém-emitido e uma parte das taxas de transação por seu trabalho na manutenção da rede. Isso cria um incentivo econômico para a participação ativa e o comportamento honesto.
Redução das taxas de transação: Com a implementação da PoS e outras melhorias, como a introdução do mecanismo de queima de taxas (EIP-1559), espera-se que as taxas de transação na Ethereum se tornem mais estáveis e previsíveis.
Importante destacar, um limite máximo para a taxa de emissão foi estabelecido, capado em aproximadamente 1,7%. Esse teto representa uma medida cautelar para garantir que a oferta de ether cresça de maneira previsível e controlada, evitando a inflação excessiva e promovendo a confiança no ecossistema Ethereum a longo prazo.
A transição para a Prova de Participação não apenas representa uma evolução técnica para a Ethereum, mas também uma mudança significativa em sua economia. Ao alinhar os incentivos dos participantes da rede, promover a sustentabilidade e controlar a inflação, a Ethereum está se posicionando como uma plataforma mais eficiente e atraente para o desenvolvimento de aplicativos descentralizados e a criação de valor no ecossistema de criptomoedas.
Não é fascinante a forma como a rede Ethereum se adaptou às mudanças na sua economia? Atualmente a rede está dinâmica ao ponto de ajustar automaticamente sua taxa de emissão. Quanto maior a atividade na rede mais ETH é queimado, reduzindo a oferta e deixando o Ether mais escasso para desincentivar a atividade econômica. Quando a atividade está baixa a rede volta a emitir mais Ethers do que destruir, voltando a estimular a economia com a inflação da base monetária. O algoritmo que decide esssa emissão e queima de Ethereum está rodando de forma autônoma a cada bloco (10 a 12 segundos), sem depender de nenhuma contraparte ou de uma reunião do Copom para decidir quais estímulos a economia precisa.
Consolidando os conhecimentos sobre Ethereum
A Ethereum é uma plataforma blockchain que vai além das transações financeiras, permitindo a criação e execução de contratos inteligentes. Esses contratos são programas autoexecutáveis que automatizam acordos e processos, eliminando a necessidade de intermediários e aumentando a eficiência.
A economia da Ethereum é baseada em sua moeda nativa, o Ether (ETH), que é usado para pagar as taxas de transação e executar contratos inteligentes. Ao contrário do Bitcoin, que tem uma oferta máxima predefinida, a política monetária da Ethereum é mais flexível e adaptável.
Ao longo dos anos, a Ethereum passou por várias atualizações e melhorias, como a redução das recompensas por bloco, a introdução do mecanismo de queima de taxas e a transição para a Prova de Participação (PoS). Essas mudanças visam aprimorar a eficiência, sustentabilidade e segurança da rede, além de controlar a inflação.
Com a implementação da Prova de Participação, os validadores substituíram os mineradores como os responsáveis por validar transações e criar novos blocos. Esse sistema incentiva a participação ativa e a segurança da rede, ao mesmo tempo em que mantém o controle sobre a inflação.
A economia da Ethereum é dinâmica e se adapta automaticamente às mudanças na atividade da rede. Quando a atividade está alta, mais ETH é queimado, reduzindo a oferta e desestimulando a atividade econômica. Por outro lado, quando a atividade está baixa, a rede emite mais Ethers do que destrói, estimulando a economia com a inflação da base monetária.
Essa capacidade de ajuste automático, sem depender de contrapartes ou decisões centralizadas, torna a economia da Ethereum única e inovadora. À medida que a adoção de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados (dApps) continua a crescer, a Ethereum está bem posicionada para desempenhar um papel central na economia digital do futuro.
Curiosidades:
TxStreet: O TxStreet é um site que oferece uma visualização divertida e interativa da mempool (pool de transações pendentes) das redes Bitcoin e Ethereum. As transações são representadas por personagens animados, tornando mais fácil entender o fluxo de transações e a dinâmica da rede.
Blockexplorer: Os exploradores de blocos são ferramentas essenciais para mergulhar na transparência das blockchains. Eles permitem que os usuários visualizem informações detalhadas sobre transações, endereços e blocos.
Blockchain.info (Bitcoin): https://www.blockchain.com/explorer
Etherscan (Ethereum): https://etherscan.io/
Ethereum Ultra Sound Money: O site Ethereum Ultra Sound Money apresenta uma visão aprofundada da economia da Ethereum, com gráficos e análises sobre a emissão, queima e oferta de Ethers. É uma excelente fonte para entender a evolução da política monetária da Ethereum ao longo do tempo.
Sugestão de Leitura:
"The Infinite Machine: How an Army of Crypto-hackers Is Building the Next Internet with Ethereum" de Camila Russo: Este livro conta a história fascinante do surgimento e evolução da Ethereum, desde sua concepção por Vitalik Buterin até seu impacto no mundo das criptomoedas e além. É uma leitura envolvente que oferece insights sobre a visão e os desafios enfrentados pela comunidade Ethereum.
"Mastering Bitcoin" de Andreas M. Antonopoulos: Este livro é uma introdução abrangente ao Bitcoin, abordando desde os conceitos básicos até os aspectos técnicos mais avançados. É uma leitura obrigatória para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a tecnologia blockchain e a economia do Bitcoin.
"Ethereum: Blockchains, Digital Assets, Smart Contracts, Decentralized Autonomous Organizations" de Henning Diedrich: Este livro explora a plataforma Ethereum em detalhes, abordando seus conceitos fundamentais, contratos inteligentes, tokens e organizações autônomas descentralizadas (DAOs). É uma excelente fonte para entender o potencial e as aplicações da Ethereum.
Conclusão
Uau, que jornada incrível! Espero que você esteja tão empolgado quanto eu com o fascinante mundo das economias blockchain. Neste artigo, exploramos os conceitos básicos do Bitcoin e da Ethereum, duas das principais redes blockchain que estão revolucionando a forma como pensamos sobre dinheiro, contratos e interações digitais.
Vimos como o Bitcoin introduziu o conceito de escassez digital e uma política monetária previsível, enquanto a Ethereum expandiu as possibilidades com seus contratos inteligentes e capacidade de criar aplicativos descentralizados. Essas inovações não apenas desafiam o sistema financeiro tradicional, mas também abrem caminho para uma nova era de transparência, segurança e eficiência.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg! As economias blockchain estão em constante evolução, com novas atualizações e melhorias sendo implementadas regularmente. A transição da Ethereum para a Prova de Participação é um exemplo perfeito de como essas redes podem se adaptar e crescer para atender às necessidades de um ecossistema em rápida expansão.
Estamos testemunhando o nascimento de um novo paradigma econômico, onde as regras são definidas por código e consenso, em vez de autoridades centrais. É um mundo em que a criatividade, a inovação e a colaboração prosperam, e as possibilidades são verdadeiramente ilimitadas.
Então, prepare-se para embarcar nessa emocionante aventura! Continue acompanhando esta série de artigos, pois vamos nos aprofundar ainda mais nos mecanismos, oportunidades e desafios das economias blockchain. Juntos, podemos desvendar os segredos dessa tecnologia transformadora e moldar um futuro mais justo, transparente e descentralizado.
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Ei, você chegou até aqui! Isso significa que, assim como eu, você está animado para desvendar os mistérios e o potencial das economias blockchain. Que tal fazermos essa jornada juntos?